Portulegal

Published on setembro 26th, 2014 | by Katia Suman

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Portulegal # 96 – Carlos de Azevedo – 08.09.14 – radioeletrica.com

O segundo episódio da série de programas sobre tradições populares portuguesas aborda a diversidade linguística que existe na Península Ibérica. Para o escritor leonês (espanhol) Xosepe Vega, “é muito interessante conhecer a língua própria, conhecer a história própria e a tradição própria, porque entendemos mais coisas quando aprendemos outra língua. Hoje, há uma juventude que tem comportamentos, que tem costumes e não sabe bem por quê. Alguém é mais gente, cresce mais pessoalmente quando entende a que se devem esses comportamentos e linguajares. Quando os jovens se interessam por isso, imediatamente conectam-se com as pessoas mais velhas e vêem as velhas gerações de outra maneira, ou seja, ao mesmo tempo se cria uma certa coesão social. Quando vejo jovens que nunca compreenderam os seus avôs, quando frequentam um curso e imediatamente começam a entender o que queria dizer o avô quando falava determinadas coisas, não eram coisas inventadas ou saídas do acaso, eram falares de uma pessoa que tinha sua própria bagagem cultural, e então imediatamente se criam laços, se formam relações entre o(a) neto(a) e o(a) avô(ó). Estás contribuindo para que haja mais coesão social, estás ajudando para que a comunidade na qual vivemos se torne mais unida e isso me parece um valor muito importante para defender a tradição e para defender os idiomas autóctones, não é pelas bandeiras nacionalistas porque o nosso seja (supostamente) mais bonito ou porque o nosso valha mais, não, o nosso é igual que o dos outros, pode ser até mais feio, mas é o nosso e defendê-lo contribui para que nos sintamos mais unidos uns com os outros e para que avancemos socialmente de verdade, avancemos como comunidade, como coletivo”. Conheça a história do mirandês, “la outra lhéngua” oficial de Portugal e como ela sobreviveu oito séculos transmitida exclusivamente pela tradição oral. Texto do escritor mirandês Amadeu Ferreira, início do filme “Anquanto la lhéngua fur cantada”, do realizador João Botelho: “Andei anos a fio com a língua entalada para a obrigar a sair do seu caminho e ter de pensar antes de dizer as palavras certas. Uma língua nasceu-me e comi-a em merendas e bebi-a em fontes e em riachos. Outra veio de uma guerra de muitas batalhas. Agora tenho duas línguas comigo e já não passo sem ambas. Estou sempre a trocar de língua meio a medo, como se fosse um caso de bigamia. Uma sabe coisas que a outra não conhece. Riem-se uma da outra, fazendo caçoadas… e por vezes até se zangam. Afora isso, dão-se tão bem que eu sonho nas duas línguas e ao mesmo tempo. Há dias em que quero falar uma e sai-me a outra. Há dias em que fico com uma delas tão amarfanhada que, se não a falar, arrebento-me. Há dias em que se embrulham uma na outra e desatam a correr a ver quem chega primeiro. E, muitas vezes, acabam por sair montadas uma na outra e eu desato-me a rir! Há dias em que fico todo coberto por palavras por dizer e subo nelas como numa escada. E deixo-as voar como música, com medo que enferrugem as cordas que as sabem tocar. Há dias em que quero passar de uma para a outra, mas as palavras escondem-se-me – e passo muito tempo atrás delas! Entre elas divide-se o meu mundo e enquanto passam a fronteira sentem-se meio perdidas e fartam-se de roubar palavras uma à outra. Ambas pensam, mas há partes do coração em que uma delas não consegue entrar e quando chega à porta põe o sangue a jorrar das palavras. Cada uma foi professora da outra.” Saiba mais sobre as terras de Miranda e sobre a bela língua mirandesa aqui: http://www.rtp.pt/play/p799/e115321/viagem-ao-centro-da-minha-terra e aqui: https://www.youtube.com/watch?v=3SIv2sF5jOM

Músicas tocadas:
1. Fadomorse – Raízes folk
2. [trecho do filme] Anquanto la Lhéngua fur cantada (João Botelho)
3. Né Ladeiras – Çarandilheira (trad. mirandês)
4. Galandum Galundaina e Uxia – La galhina (trad. mirandês)
5. Galandum Galundaina – La lhoba parda (trad. mirandês)
6. O reconhecimento da língua mirandesa (texto)
7. Noa Noa – Pur beilar el pingacho (trad. mirandês)
8. Noa Noa – Mira-me Miguel (trad. mirandês)
9. Noa Noa – Baila nena (trad. galego)
10. Noa Noa – El gavinet & Cançó de pegaire (trad. catalã)
11. Né Ladeiras – Roro (trad. mirandês)
12. Né Ladeiras e Fausto Bordalo Dias – Linda pastorica (trad. mirandês)
13. Brigada Victor Jara – Cantiga do Bombo (trad. Beira Baixa)
14. Zeca Medeiros e Brigada Victor Jara – A Fofa (trad. Ilha de São Miguel, Açores)
15. (popular) – A fonte do Salgueirinho

Tags: Açores, Beiras, Brigada Victor Jara, Trás-os-Montes, idiomas autóctones, língua mirandesa, cultura mirandesa, Galandum Galundaina, Miranda do Douro, Né Ladeiras, Noa Noa, tradição oral, iberismo, Portugal, Península Ibérica, música portuguesa, Zeca Medeiros

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