Portulegal

Published on março 18th, 2014 | by Katia Suman

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Portulegal # 70 – Carlos de Azevedo – 17.03.14 – radioeletrica.com

Há alguns anos, o cantor João Afonso (sobrinho do grande Zeca Afonso) foi desafiado pelo seu amigo e conterrâneo moçambicano, o escritor Mia Couto (prêmio Camões 2013) a musicar textos do próprio Mia. Mais tarde, João convidou para compor letras o também escritor angolano José Eduardo Agualusa, amigo e colega na Faculdade de Agronomia. Foi assim que o disco “Sangue Bom” foi “cozinhado” em lume brando, passaram-se então uns anitos e juntaram-se ao projeto músicos do Brasil, Portugal, Cabo Verde, Galícia, Angola, Moçambique e São Tomé, que resultou finalmente em 2014 num lindo disco, um verdadeiro mosaico, cheio de sonoridades da lusofonia.
Cati Freitas é uma jovem cantora bracarense que começou como “backing vocal” de várias bandas. Ela sonhava gravar um disco em nome próprio, com Tiago Costa, que é o produtor musical de Maria Rita. Para tornar o seu sonho em realidade, ela juntou dinheiro e foi ao Brasil, pagando toda a gravação do disco com recursos próprios. Depois de quase três anos de muita luta e duas viagens transatlânticas, Cati mostrou o resultado do seu trabalho e recebeu boa acolhida pela crítica e pelo público português. Só faltava arranjar uma gravadora para publicar o disco “Dentro” (já pronto) e uma banda para apresentar-se em shows. Ao final de 2013, o sonho de Cati fez-se real. Ela cantou músicas de autoria dela mesma, de Chico Buarque, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes, Edu Lobo, Marcelo Camelo, entre outros. É um trabalho de bom gosto e com um toque de sofisticação a cada tema, sem abrir mão de sua personalidade. Cati Freitas canta a boa MPB com talento, sutileza e so taque português.
O caminho de Maria de Medeiros foi, talvez, menos penoso. Nascida numa família de artistas, filha do maestro António Victorino de Almeida e já consagrada atriz e realizadora de cinema, deu mais um passo firme na música ao lançar recentemente “Pássaros Eternos”, seu terceiro disco. Maria escreveu letra e música de metade das canções do disco (cinco em dez), musicou Sophia de Mello Breyner, fez um texto para uma melodia do célebre guitarrista cigano Raimundo Amador, assinou uma parceria com The Legendary Tiger Man (Paulo Furtado) e recriou temas de Adriano Celentano e Elis Regina. Além disso, convidou vários artistas plásticos a ilustrarem cada uma das canções.
João Afonso, Cati Freitas e Maria de Medeiros são cidadãos do mundo, músicos nômades de raiz portuguesa que absorveram influências dos lugares por onde passaram para servir à sua arte.

Tags: Agualusa, Cati Freitas, João Afonso, Maria de Medeiros, Mia Couto, música luso-africana, música portuguesa

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